02 fevereiro, 2006
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas
-Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
-Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
Hum...um dos meus favoritos :-)
amiga, o desafio não está esquecido, só o tempo tem sido menos conivente. Mas logo que reate o espaço - talvez ainda hoje - será em primeiro lugar te dar conta das minhas manias (embora seja um tipo simples, e sem muitas, sempre tenho algumas, :-) )
Beijo, um fim de semana cheio de poesia :-)
Desafio Cumprido.
Bom fim de semana.
Beijokas das Linas
YardBird, que interessante. Tive sempre uma certa queda para este heterónimo, mas não a ponto de ser favorito.
Desafios sobre manias, perdão, singularidades, podem sempre esperar.
Beijos e voos bons.
Gostei das duas colunas de singularidades. E ddas manias, em si... (argumentar? boa...)
Céus, Kit Walker...
Por um lado, concordo imenso.
Por outro, entristece.
Então, nos espaços pequenos em que se está com companhia, que se deguste bem, para voltar mais inteiro à solidão.
Enviar um comentário