19 fevereiro, 2006

Fragmentos

















1
Poesia é amargura,
mel celeste que emana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

2
Eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado
meu coração frio.

3
Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.

4
Rumor.
Ainda que não fique nada mais que o rumor.
Aroma.
Ainda que não fique mais que aroma.
Mas arranca de mim
a recordação e a cor das velhas horas.

5
Agonia, agonia, sonho, fermento e sonho.
Este é o mundo, amigo, agonia, agonia.

6
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana, as coisas estão mirando-a e ela não pode mirá-las.

7
Não me perguntem nada.
Eu vi que as coisas quando buscam seu curso encontram seu vazio.

8
Quero dormir o sono das maçãs,
afastar-me do tumulto dos cemitérios.


Frederico García Lorca

2 comentários:

Esvoaçante disse...

Brisa

Esvoaçante disse...

Gosto das palavras, Luz. Muito.
E de jogar com elas os jogos dos sentidos e dos significados.
:)

beijo.