28 junho, 2007

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Sê paciente;
espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

Eugénio de Andrade

27 junho, 2007




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Na igualdade da torrente, uma só árvore,
palavras e pedras acolhendo
uma cabeça ao ritmo das vagas,
e uma sombra oval sobre as espáduas,
respirando lentamente o ar redondo,
os reflexos nos ramos, semelhanças
de um sopro, os anéis do dia,
sem fim nem centro a inacabada arca
que sobre o mar, errante, é a permanência.

António Ramos Rosa

26 junho, 2007























i
nvento a dor que pressinto
e nada sinto - acrescento
noutro momento desminto
minto ser dor meu tormento
dor que consinto é-me alento
alento que em vão consinto
mais dói se em tormento minto
desminto após um momento
dor acrescento à que sinto
e à que pressinto se invento

Márcia Maia
Tábua de Marés

25 junho, 2007

Regresso

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E contudo perdendo-te encontraste.
E nem deuses nem monstros nem tiranos
te puderam deter. A mim os oceanos.
E foste. E aproximaste.
Antes de ti o mar era mistério.
Tu mostraste que o mar era só mar.
Maior do que qualquer império
foi a aventura de partir e de chegar.
Mas já no mar quem fomos é estrangeiro
e já em Portugal estrangeiros somos.
Se em cada um de nós há ainda um marinheiro
vamos achar em Portugal quem nunca fomos.
De Calicute até Lisboa sobre o sal
e o Tempo. Porque é tempo de voltar
e de voltando achar em Portugal
esse país que se perdeu de mar em mar.



Manuel Alegre