05 janeiro, 2006

Equinócio
















Chega-se a este ponto em que se fica à espera
Em que apetece um ombro o pano de um teatro
um passeio de noite a sós de bicicleta
o riso que ninguém reteve num retrato

Folheia-se num bar o horário da Morte
Encomenda-se um gin enquanto ela não chega
Loucura foi não ter incendiado o bosque
Já não sei em que mês se deu aquela cena

Chega-se a este ponto Arrepiar caminho
Soletrar no passado a imagem do futuro
Abrir uma janela Acender o cachimbo
para deixar no mundo uma herança de fumo

Rola mais um trovão Chega-se a este ponto
em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
Em que a rota do Sol é a roda do sono
Chega-se a este ponto em que a gente não sabe

David Mourão-Ferreira
Do tempo ao coração

2 comentários:

Anónimo disse...

Tu és de certeza, absoluta, muito especial!!!

Só me apetece...não digo!

Esvoaçante disse...

Obrigada pela apreciação. Não sabendo em que sentido o afirmas, partilho o que penso: cada pessoa é, na sua singularidade, especial.

Quanto à opção de não dizer, concerteza - costumo respeitar as decisões das pessoas (risos).