09 julho, 2007

Há dias























Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo
nos cai em cima
depois ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam
não lhes sei o nome
uma ou outra parece-me comigo
quero eu dizer :
com o que fui
quando cheguei a ser luminosa
presença da graça
ou da alegria
um sorriso abre-se então
num verão antigo
e dura
dura ainda.


Eugénio de Andrade

5 comentários:

carteiro disse...

Os pequenos momentos de regresso à inocência...
uma ternura utópica que existe na essência do que somos (ou fomos) :)

Esvoaçante disse...

inocência e ternura combinam-se :) e teêm lugar, Senhor dos Selos, não são propriamente «u-tópicas», isto é, sem lugar...

fomos e somos.

beijos

Maria Carvalhosa disse...

Lindo. Quanto à vossa troca de impressões acima, vou opinar: nunca deixamos de ser o que fomos; acrescentamo-nos todos os dias (e, inevitavelmente, por vezes, também nos subtraímos).

Esvoaçante disse...

Gostei da ideia do somamos e subtraímos - sobretudo porque somamo-nos e subtraimo-nos, às vezes nas operações inversas...
:))
ou seja, mesmo quando nos subtraímos a, podemos estar a somar-nos de...
confuso?

Maria Carvalhosa disse...

Clarinho como água, Esvoaçante.

Neste caso, beijos (apenas) somados a todos os outros, sem subtracções. :)(risos)

Das subtracções de... que se somam a... (ou vice-versa) falaremos outro dia. Talvez noutro lugar. Temos sempre tanto que falar!