08 setembro, 2006
Vestígios
noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas - noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavam
os líquenes das imundas máscaras
hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se
onde se pode - num vocabulário reduzido e
obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir
apesar de tudo
continuamos e repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva - vamos pela febre
dos cedros acima - até que tocamos o místico
arbusto estelar
e
o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial
Al Berto
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2 comentários:
Continua fascinante esta tua colecção boboletas/poemas. Quando puderes, passa no meu blog. Tenho lá uma piscadela de olho para ti, de alguma forma relacionada... (risos).
Beijo.
Fui lá num saltinho... Obrigada! É lindissima, a imagem, a metáfora e a dedicatória :))
beijos enternecidos
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