17 julho, 2006





















Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia de Mello Breyner Andresen

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas é no silêncio que melhor te encontro. Tenho-te sem te ter, toco-te sem te sentir. Rasgo as paredes da minha alma e mostro-te o quanto te quero. Tudo para quê? Tudo em vão. Estou só.

Esvoaçante disse...

Dificilmente, será em vão.
Ainda que não ob-tenha o que se deseja.
:)