28 abril, 2006

ofertado





















“Virás comigo”, disse, sem que ninguém soubesse
onde e como pulsava o meu coração doloroso,
e para mim não havia cravo nem barcarola,
nada a não ser uma ferida aberta pelo amor.

Repeti: vem comigo, como se estivesse a morrer,
E ninguém viu na minha boca a lua que sangrava,
Ninguém viu aquele sangue que crescia em silêncio.
Oh amor, esqueçamos a estrela com espinhos!

Por isso quando ouvi a tua voz repetir
“Virás comigo”, foi como se soltasses
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado

que da sua adega submersa subisse
e outra vez na boca senti um sabor de chama,
de sangue e cravos, de pedra e queimadura.

P. Neruda

(Obrigada, Zeus)

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