30 agosto, 2006



















Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

L. Vaz de Camões

2 comentários:

carteiro disse...

Este pertence aos imortais...
Imortais sao as palavras, o dono da mao que as escreveu e do coracao que as sentiu, quem as lê e quem as sente.

"é nunca contentar-se de contente;"

Esvoaçante disse...

Muito-muito de acordo. Um dos sonetos imortais sobre paradoxos (sorriso) do mais paradoxal de todos os sentimentos.

"se tão contrário a Si é o mesmo Amor?"