06 abril, 2009

A sombra que vem depois do sol























A sombra que vem depois do sol
É habitada
É uma sombra feliz
A sombra que sucede à luz mui forte
É grávida de cor afirmativa
Estabiliza os caudais
Da imaginação
Pinta seus recantos obscuros
Reconcilia tudo.

Alberto de Lacerda

05 abril, 2009

re-gres-so















Que pena não ter um pincel
que pinte as flores da ameixoeira
com o seu perfume.

Miyamori

02 outubro, 2007

encerrado
como uma etapa.

lível
como um livro de poemas.

01 outubro, 2007

recado
















desprende-se do teu olhar o magnífico
abandono dos animais adormecidos
recordo tuas mãos gretadas pelos sóis oblíquios destes dias
do corpo esquecido jorram resinas
retenho ainda os mais íntimos desejos de me confundir com a paisagem
ou de viver precariamente no outro lado do seu silêncio enrubescido

Al Berto

01 agosto, 2007












Gosto de ti calada porque estás como ausente
e me ouves de longe, e esta voz não te toca.
Parece que os teus olhos foram de ti voando
e parece que um beijo fechou a tua boca.

Borboleta de sonho, pareces-te com a minha alma
e pareces-te com a palavra melancolia.

Pablo Neruda

31 julho, 2007












No mundo só há um templo: o corpo humano.
Nada mais sagrado do que esta forma sublime.
Inclinarmo-nos perante um homem,
é render homenagem a esta revelação da carne.
É no céu que tocamos quando tocamos num corpo humano.

Todo o objecto amado é o centro de um paraíso...

Novalis

25 julho, 2007

do coração

















Quem parte e reparte

(o coração) fica sempre
com a melhor parte.



Francisco José Viegas

23 julho, 2007

Quando, no nome do mar

















Quando digo o nome do mar não é do mar

que digo o nome, mas de tudo o que
antes e para lá do mar ficou
em sobressalto nos perigos da sua travessia.


Aprendi isso em lugares raros,

como o último silêncio, a última gota

de água ou de mel.


Francisco José Viegas

22 julho, 2007

Poema XVIII











Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.

Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.

Eugénio de Andrade

21 julho, 2007

Ícaro






O sol dos Sonhos derreteu-lhe as asas.
E caiu lá do céu onde voava
Ao rés-do-chão da vida.
A um mar sem ondas onde navegava
A paz rasteira nunca desmentida...

Mas ainda dorida
No seio sedativo da planura,
A alma já lhe pede impenitente,
A graça urgente
De uma nova aventura.

Miguel Torga

(borboleta: parnasius mnemosyne)